Por William Douglas
Havia um intelectual que veio a ser membro da banca examinadora de um concurso
dificílimo. Autor de vários livros e com currículo brilhante, ele era o
terror dos candidatos. Suas perguntas eram ainda mais difíceis do que o
próprio concurso. Um dia, contudo, um professor inteligentíssimo
percebeu que todas as perguntas eram tiradas das notas de rodapé de
determinados livros que, por muito apreciados pelo examinador em
questão, acabavam sendo fonte constante das questões de concurso que
formulava. Então, uma apostila de poucas páginas, só com as notas de
rodapé, passou a ser o suficiente para todo mundo ser aprovado naquela
disciplina.
Muito bem, este artigo é baseado em
fatos reais! Agora vou contar dois casos meus. Dei aula para um grupo de
alunos que se preparava para o concurso de Delegado de Polícia/RJ. Na
véspera da prova específica discursiva, acertei 4 de 5 questões. Meus
alunos achavam que eu era oráculo, mágico, ou coisa parecida. Mas não
era isso, eu apenas fiz a pergunta: “Se eu fosse examinador desse
concurso, o que eu perguntaria?” Basta observação, pragmatismo e o
desejo de fazer alguma coisa funcionar. Isso incomoda a muitos, pois há
uma tendência a querer que todos sigam os padrões tradicionais. A
Academia, a Universidade e os intelectuais não gostam do que chamam de
“listas”, “receitas” e do que é rotulado como “autoajuda”. O problema é
que há horas para ser acadêmico, e horas para ser pragmático (como no
caso dos concursos). Somos criticados apenas porque seguimos outro
padrão. Não existe um padrão certo e outro errado, eles apenas são
diferentes. Isso vale para aulas, livros, cursos, projetos, preferências
sexuais etc.
Outro caso sobre padrões. Minha
apostila de Medicina Legal, hoje livro, foi feita por um sistema muito
simples. Eu me perguntava o que seria importante para um Delegado de
Polícia saber nessa disciplina. Isso bastou para a então apostila ser
considerada “ouro em pó”, pois matava todas, ou quase todas, as questões
dos concursos. Isso só deixou de funcionar no Estado do Rio de Janeiro
quando a banca mudou o padrão, deixando de perguntar o que um Delegado
precisa saber e passou a indagar, numa decisão lamentável, coisas que
nem quem faz o concurso para perito é capaz de responder. A funesta
decisão da banca não matou minha apostila, pois hoje é um livro com
outros autores e muito bem recebido. Mas matou a lógica racional no
concurso, prejudicou muita gente e fez a Polícia Civil perder ótimos
Delegados, reprovados numa matéria importante, mas que não devia ser
cobrada dessa maneira.
Muito bem, o fato é que a técnica
utilizada pelo professor que citei, e por mim, nos dois casos
anteriores, é muito simples. Primeiro, a gente observa ou se indaga o
que seria razoável cair ou o que está caindo nas provas. Segundo,
traça-se um padrão que o examinador esteja seguindo. Em suma, o que mais
comumente ele usa. Aí, por fim, anota-se tudo que, estando dentro do
Programa do Edital, se encaixa no padrão. Tudo que estiver no padrão, a
gente anota. A técnica nada mais é que se antecipar ao examinador. Para
fazer isso é preciso ter muito conhecimento e estudo, e usar a
inteligência. Vale citar que aquele examinador citado no primeiro caso é
um gênio, tem muito a dar, mas na hora de perguntar, ele seguia um
padrão simples, que foi plotado por olhos que o observavam. Eu fazia
isso quando concurseiro, depois como professor.
As pessoas que às vezes criticam essas
técnicas, a meu ver, não compreendem a ideia ou, pior, se sentem
ameaçadas por quem não segue os padrões que elas elegeram. Descobrir o
que vai cair e estudar o assunto é atividade inteligente. Saber
“chutar”, embora criticado por tantos, tem seu lugar também. Minha aula
sobre “chute” que está na Área de Ciência e Tecnologia do Youtube, já
tem mais de 250.000 exibições. Muitos criticam as técnicas, mas se
esquecem do meu pragmatismo e das orientações que dou no livro ao tratar
do assunto. Repare que o pessoal do Google, um time genial, classificou
o “chute” em Ciência e Tecnologia, o que não é correto, mas mostra que
nem todo mundo
acha o “chute” uma fraude. Saber a
hora de chutar, e como, e bem, é inteligência posta a serviço do sonho.
Digo que o ideal é saber a respostas, mas se isso não acontecer…
Além da previsão do futuro e do
“chute”, o modelo de livros para concursos também foi criado a partir da
análise de padrões. Ao criar os livros para concursos, eu quis ajudar
os concurseiros que, como eu, sofriam por falta de material adequado.
Sem saber, estava quebrando um paradigma e criando um novo nicho
editorial. Na minha época, só havia apostilas e livros espessos – as
primeiras com menos do que o candidato precisava; os livros, com muito
mais que o necessário para passar. Então, sugeri ao Sylvio Motta que
incluísse uma nova parte no livro de questões de Direito Constitucional
que ele estava preparando. Sugeri que ele fizesse uma teoria resumida,
do tamanho adequado para concurseiros. Em resposta, ele disse que topava
a proposta se eu participasse do projeto da parte teórica. Aceitei, e
dali saiu um livro em co-autoria que foi aquele que começou a série
“Provas & Concursos”, que revolucionou o mercado. Até o dia em que
paramos de publicar aquela obra juntos, mais de 50.000 livros já tinham
sido vendidos. Mais que isso, chamamos os amigos professores e saiu dali
toda uma série. Claro que apareceu gente para criticar a “indústria dos
concursos”, mas o fato é que, até aquela época, ninguém se preocupava
com os concurseiros. Hoje, o cenário mudou e até as editoras jurídicas
já estão cuidando de ter séries para concursos públicos. Mais uma vez,
tudo aconteceu a partir da identificação de um padrão e de uma
simplificação, qual seja, atender não a tudo, mas apenas ao padrão. Isto
é muito eficiente.
Descobrir o padrão simplifica o
trabalho e isso não serve apenas para concursos. A técnica funcionará
tanto melhor quanto mais razoável for quem estiver do “outro lado”. O
macete é: identifique o padrão utilizado pela outra pessoa e você saberá
o futuro. O que vai cair na prova, o que uma pessoa fará amanhã, como
ela reagirá a uma dada situação, como ela se sairá em um negócio. Prever
comportamento só não funciona muito com os loucos. Eles não seguem
necessariamente um padrão. Mas, se definirmos que o sujeito é maluco,
então já teremos um padrão para ele: nesse caso, não se pode usar os
padrões anteriores porque ele não segue padrões. Felizmente, não é o
caso da maior parte dos examinadores e humanos. Somos uma raça de
padrões. Muitos padrões diferentes, mas padrões. Infelizmente, contudo,
existem pessoas e bancas, e alguns governos, loucos.
O desafio é descobrir o padrão. Se a
banca, o sócio, o cônjuge, o cliente etc. não seguir um padrão, seguirá
outro. Descubra qual é o padrão e você poderá prever o futuro. O
resultado só vai mudar se a pessoa mudar o padrão, mas para isso ela tem
que estar observando, querendo mudanças, precisa estudar, ou fazer
terapia, ou sofrer muito, ou se converter a algum credo, ou ver a morte
de perto… Por falar em mudar padrões, se você está sendo reprovado em
concursos, veja o que precisa fazer para mudar seu padrão de
atitudes-pensamentos-comportamentos e, assim, poderá mudar o padrão dos
resultados também.
Descobrir o que vai cair na prova pode
ser feito de várias formas. Isso inclui estudar o Programa todo, fazer
as provas anteriores, entender como cada instituição trabalha
(Cespe/Unb, Esaf, FCC, por exemplo), desenvolver e analisar
estatísticas, reparar o que está acontecendo na época da prova, ouvir os
professores especializados (acessíveis nos livros, cursos e na
internet)… Falo sobre isso nos meus livros para concurso e no meu site, e
há muito material disponível sobre o tema.
Fazer provas não tem tanto a ver com
saber a matéria, quanto tem com saber fazer provas, saber estudar com
foco. Por enquanto, claro. Um dia, os examinadores evoluirão e
aglutinarão os conceitos de “saber” com “saber fazer provas”. Enquanto
eles não aprendem a fazer isso, estamos diante de dois assuntos
diferentes. De minha parte, quero ajudar a educação a evoluir e a
melhorar as provas, mas, até lá, quero ver meus alunos, leitores e
amigos conseguindo resultados. E, para isso, precisamos aprender a jogar
o jogo e a dançar a música que está tocando. Um dia, quebraremos o
disco e poremos música melhor, advirto.
Quando intelectuais criticam os livros
para concursos, se esquecem que tais livros são perfeitos para o fim a
que se destinam. Se querem mudar os livros para concursos, basta mudar a
forma de se
indagar nas provas. Nós, concurseiros,
alunos e professores, somos muito adaptáveis. Para concluir, assim como
a academia tem muito a aprender com os concursos, o serviço público tem
muito a aprender com a iniciativa privada. Mas este já é outro assunto.
Precisamos melhorar o serviço público e minha maior esperança é contar
com você, concurseiro.
Por fim, outra pergunta ótima é, além
de “qual é o padrão?”, indagar “o que é o mais importante?”. E, se o
tema for administração do tempo, “o que é de fato importante, é
urgente?” Essas reflexões, mais do que “apenas” fazer você passar em
concurso, pode nos ajudar a melhorar o país, a nossa vida, o amanhã. Com
esforço e inteligência, é possível produzir um hoje mais saudável e um
amanhã bem melhor para todos.
William Douglas é
juiz federal, professor universitário, palestrante e autor de mais de 30
obras, dentre elas o best-seller “Como passar em provas e concursos”.
Por William Douglas
Juiz Federal, Titular da
4a Vara Federal de Niterói – Rio de Janeiro; Professor Universitário;
Mestre em Direito, pela Universidade Gama Filho – UGF; Pós-graduado em
Políticas Públicas e Governo – EPPG
Fonte: Folha Dirigida

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